

XXI - O Mundo
Após a travessia pelo Julgamento, o Louco continuava sua escalada até o topo da montanha. A cada passo, ele sentia-se mais leve, como se a jornada que antes o desgastava agora o alimentasse com uma nova força. A luz dourada, que emanava do cume, crescia em intensidade, convidando-o a seguir adiante com a promessa de algo grandioso, a conclusão de sua odisseia.
O caminho, que antes parecia íngreme e desafiador, tornava-se cada vez mais suave, e a paisagem ao redor se transformava. As pedras áridas da montanha começaram a se tingir de verde, flores nasciam ao redor, e o céu acima, antes encoberto por névoas, tornava-se de um azul límpido e sem fim. O Louco sabia que estava se aproximando de algo além de sua compreensão, mas que, de alguma forma, ele sempre soubera que o aguardava.
Finalmente, ele alcançou o topo. O Louco parou por um momento para contemplar a cena diante de si. A paisagem que se revelava abaixo era vasta e completa. Ele podia ver todos os lugares por onde havia passado: os vales escuros, os rios, as cidades distantes, as florestas misteriosas. Tudo fazia parte de uma vasta tapeçaria que se estendia diante de seus olhos, e ele compreendeu que cada parte de sua jornada estava conectada de maneira intrínseca. Nada havia sido por acaso. Tudo tinha sido necessário para levá-lo até aquele exato ponto.
No centro do topo da montanha, uma figura apareceu. Era uma mulher envolta em um véu translúcido, com uma coroa de louros sobre a cabeça e cercada por uma mandala brilhante que girava suavemente ao seu redor. Nas quatro direções ao redor dela, figuras arquetípicas observavam silenciosamente: um touro, um leão, uma águia e um anjo. Era como se o próprio universo estivesse ali, representado por essas entidades que simbolizavam os elementos e as forças que regiam o mundo.
O Mundo.
A mulher sorriu para o Louco, um sorriso que continha toda a sabedoria e mistério do cosmos. Ela não precisou dizer nada, pois ele já sabia. Ele havia chegado. Este era o fim e, ao mesmo tempo, o início. O ponto onde tudo se une, onde a busca se completa e o círculo da vida se fecha, apenas para começar de novo.
O Louco se aproximou, e a mandala ao redor da mulher começou a girar mais rápido, emitindo uma luz radiante que o envolveu por completo. Ele não sentiu medo, apenas uma profunda sensação de pertencimento. Como se, pela primeira vez, ele estivesse exatamente onde deveria estar — no centro do próprio universo.
A mulher estendeu a mão e, ao tocá-lo, o Louco sentiu uma onda de compreensão fluir através de seu ser. Ele viu toda a sua jornada com uma clareza absoluta, cada escolha, cada desafio, cada aprendizado. Percebeu que não existiam acasos ou desvios, tudo fazia parte de uma dança cósmica maior. Ele era tanto o dançarino quanto a dança. Havia participado de algo infinitamente maior do que si mesmo e, ao mesmo tempo, era uma peça essencial desse grande quebra-cabeça universal.
— Você completou o ciclo — disse a mulher, sua voz ecoando como uma melodia. — Mas este fim é apenas o começo de algo novo. No grande esquema do universo, tudo é cíclico. Você é parte de um todo, mas também é o todo em si. Agora, o que deseja fazer com o conhecimento que obteve?
O Louco sentiu dentro de si uma plenitude indescritível. Ele havia buscado, sofrido, aprendido e crescido, e agora estava diante da maior realização: a totalidade. Mas, diferente do que imaginara no início, ele compreendia que o fim não era um ponto final, mas uma transformação.
— Eu quero viver — respondeu ele, sua voz firme e cheia de propósito. — Quero continuar a dançar essa dança, a criar e experimentar a vida em todas as suas formas.
A mulher sorriu novamente e, com um gesto gracioso, deu um passo para trás, revelando a mandala brilhante.
— Então dance, filho do universo. O mundo está aberto para você, porque você é o Mundo. Você carrega em si a essência de tudo o que foi, é e será. Agora, é hora de criar o seu próprio ciclo.
O Louco sentiu a mandala ao seu redor se expandir, como se fosse englobado pelo próprio universo. As estrelas, os planetas, as galáxias, tudo dançava em uma harmonia perfeita, e ele, parte disso, entendia que a jornada nunca terminava realmente. Cada final trazia consigo um novo começo, uma nova possibilidade de criação e descoberta.
Ele não era mais apenas o Louco. Ele havia se tornado o Mundo, completo, equilibrado e em harmonia com o todo. E, ainda assim, dentro dessa completude, havia infinitos novos caminhos a serem explorados.
Com um último olhar para a mulher e para as quatro figuras ao redor dela, o Louco, agora transformado, deu seu primeiro passo no novo ciclo que se abria diante dele. Ele sabia que sua jornada continuaria, mas agora com a sabedoria de que, independentemente de onde fosse, ele sempre estaria em casa, pois ele era tanto o caminho quanto o destino.