XIX - O Sol

Após a travessia pelas águas escuras e o domínio nebuloso da Lua, o Louco sentia-se renovado, mas também exausto. Ele havia enfrentado as profundezas de seu inconsciente, reconhecendo seus medos e ilusões. No entanto, algo ainda faltava. Sua jornada o levara por caminhos de sombras e introspecção, e agora ele ansiava por clareza, por uma luz que o guiasse com segurança.

E então, como se o universo tivesse ouvido seu desejo, a escuridão da noite começou a se dissipar lentamente. O horizonte se tingiu de dourado, e uma luz cálida e vibrante começou a inundar o céu. Era o amanhecer. Os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, enchendo o ar com uma sensação de promessa, de renovação. O Louco ergueu os olhos e, a sua frente, viu surgir uma esfera radiante, o Sol.

A paisagem ao seu redor transformou-se. As sombras recuaram, e as cores vibrantes da terra, das árvores e das flores começaram a brilhar com uma nova intensidade. A luz do Sol iluminava tudo, trazendo consigo um calor reconfortante. O Louco sentiu como se uma força vital o tomasse, uma energia que corria por suas veias e o revigorava. Seu corpo, antes pesado pelas provações e pela escuridão, agora se sentia leve, forte, pleno de vida.

Ao caminhar em direção à luz, ele avistou uma grande muralha a sua frente. No entanto, ao contrário das muralhas imponentes e opressoras que ele havia encontrado no passado, esta era banhada pela luz dourada do Sol, e atrás dela florescia um campo de girassóis que se estendia até onde seus olhos podiam ver. Em meio ao campo, uma criança montada em um cavalo branco brincava, rindo e irradiando felicidade pura. A criança, nua e despreocupada, simbolizava a liberdade e a inocência, um retorno ao estado original, onde não havia medo ou dúvida, apenas alegria e confiança.

O Louco se aproximou e sentiu o calor do Sol em sua pele, banhando-o em uma luz que parecia penetrar até o fundo de sua alma. O peso de tudo o que havia enfrentado antes, as dúvidas, as sombras, as ilusões, começou a se dissolver diante daquela clareza luminosa. Ali, sob a luz do Sol, ele se sentia renascido.

A criança, com um sorriso radiante, acenou para ele.

— Venha brincar! — exclamou, com uma voz que parecia ecoar na alma do Louco, como se falasse diretamente com a sua essência mais pura. O Louco sorriu de volta, sentindo-se mais leve do que nunca. Ele sabia que aquela criança não era apenas uma visão externa, mas uma representação de algo que ele tinha redescoberto dentro de si mesmo: a inocência, a alegria simples de viver, a capacidade de se maravilhar com o mundo.

O Sol falou com uma voz calorosa e paternal.

— Você atravessou a noite, o reino da Lua, onde as ilusões e os medos tomam forma. Agora, chegou à luz da verdade e da clareza. Aqui, não há sombras para esconder a verdade. Tudo é revelado com simplicidade e alegria.

O Louco sentiu uma onda de gratidão profunda. Ele havia enfrentado tantas provações, tantas dúvidas, mas agora, à luz do Sol, tudo parecia tão claro, tão óbvio. Ele não precisava mais lutar contra as trevas ou buscar respostas no desconhecido. Tudo o que ele precisava, toda a verdade, estava bem aqui, diante dele, na luz pura e simples do dia.

— Mas o que significa esta luz? — perguntou o Louco, olhando para o Sol com reverência. — Depois de tanta escuridão, como posso confiar nela? Como posso saber que isso é real?

O Sol riu suavemente.

— A luz não exige que você confie nela. Ela simplesmente é. A verdade não precisa ser buscada com esforço, pois quando ela surge, ilumina tudo ao seu redor. Você pode ver claramente quem você é, o que você é e para onde deve ir. Não há necessidade de dúvidas. A alegria que você sente, a paz que está em seu coração, esses são os sinais de que você está no caminho certo.

O Louco refletiu sobre as palavras do Sol. Ele sentia a verdade daquilo. Sob aquela luz, sua mente estava clara, suas emoções equilibradas, e seu coração leve. Ele se lembrava das dificuldades pelas quais havia passado, mas agora elas pareciam distantes, como memórias de uma outra vida, uma vida que ele tinha transcendido.

O Sol continuou a falar, sua voz preenchendo o ar com sabedoria e calor.

— A luz que você vê aqui, no meu reino, não é apenas a luz externa. Ela é também a luz que sempre existiu dentro de você. A sua jornada o trouxe até aqui para que você pudesse redescobrir essa luz interior, para que você pudesse se lembrar de sua própria essência, sua própria verdade. Agora, você está em harmonia consigo mesmo. Você aprendeu que, mesmo nas trevas mais profundas, há sempre uma centelha de luz esperando para ser encontrada.

O Louco sorriu. Ele entendia agora. Sua jornada não era apenas uma busca por algo externo, mas uma viagem para dentro de si mesmo. E agora, sob a luz do Sol, ele havia redescoberto essa verdade, esse poder interior que sempre esteve com ele. Ele se sentia completo, em paz com o mundo e consigo mesmo.

— Então, o que devo fazer agora? — perguntou o Louco, sentindo uma tranquilidade profunda.

O Sol brilhou ainda mais forte, como se estivesse sorrindo para ele.

— Viva, Louco. Viva com alegria, com confiança, com gratidão. Agora que você se reconectou com sua luz interior, o caminho a sua frente será claro. Não há necessidade de pressa. A luz do Sol estará sempre com você, dentro de você, guiando seus passos.

O Louco respirou profundamente, sentindo a energia do Sol preencher todo o seu ser. Ele sabia que sua jornada ainda não havia terminado, mas agora, com a luz do Sol para guiá-lo, ele estava pronto para qualquer desafio que pudesse surgir. Ele não temia mais o desconhecido, pois sabia que sua verdade interior era sua bússola, e que, mesmo nos momentos de dúvida, ele poderia sempre encontrar clareza e força em sua própria luz.

Com um último olhar para o Sol, o Louco acenou para a criança que brincava no campo, e começou a caminhar novamente, sentindo-se mais vivo do que nunca. O Sol continuava a brilhar intensamente acima dele, iluminando o caminho à frente, prometendo que, a partir daquele momento, ele nunca mais caminharia nas trevas sem saber que a luz sempre estaria dentro dele.