

0 - O Louco
O vento soprava forte naquela manhã, carregando folhas secas e promessas de novos horizontes. No topo de uma colina, de onde se podia ver o vale infinito abaixo, estava ele: o Louco. Vestia roupas descombinadas, uma mistura de cores vibrantes, como se a própria natureza houvesse tecido para ele uma capa de possibilidades. Seus olhos brilhavam com uma luz inocente e indomável, e seus lábios estavam entreabertos, como se fossem pronunciar uma pergunta que nunca seria respondida.
Levava consigo uma pequena trouxa, leve, quase desprezível. Nela, guardava o que muitos chamariam de "nada", mas que para ele era tudo: sonhos, esperanças, medos não confessados e o desejo incessante de descobrir o que mais o mundo poderia oferecer. Uma flor branca na mão, símbolo da pureza da sua visão. Em seus pés, botas amarelas gastas pelo tempo e pela estrada, marcando o início de uma jornada que mal sabia onde iria terminar.
A sua frente, um precipício. Atrás, um caminho que não mais lhe interessava. O Louco estava prestes a dar seu primeiro passo, sem temer. Afinal, ele não conhecia a dúvida, não carregava a hesitação. Para ele, o primeiro passo era tão natural quanto respirar, e o desconhecido, seu mais fiel companheiro.
O céu acima dele era ensolarado, como se o universo estivesse apontando para ele os holofotes enquanto aguardava o momento em que ele se lançaria em sua aventura. Mas não havia pressa. O Louco vivia o presente, cada segundo, cada sopro de vento, como se o tempo fosse um conceito distante, uma invenção de quem tinha medo de seguir em frente.
De repente, um som distante se fez ouvir. Era como um chamado, um sussurro das estrelas, convidando-o a se aventurar. Ele deu um sorriso, aquele sorriso largo e despreocupado, e olhou para o cão ao seu lado, um companheiro leal, sempre presente. O animal latia animado, pulando ao redor, como se dissesse: "Vamos! O mundo é nosso!"
Sem pensar, o Louco deu o primeiro passo. E assim, com a alma leve e o coração cheio de curiosidade, ele se lançou na jornada da sua vida, sem olhar para trás.
Não sabia o que o esperava, nem se importava. Pois, para o Louco, o começo e o fim eram um só. Tudo estava em aberto. Tudo era possível.
E assim começa a jornada.