III - A Imperatriz

O vento suave que acompanhava o Louco agora trazia um cheiro doce, uma fragrância de flores e terra molhada. Ele havia deixado para trás o templo da Sacerdotisa, carregando consigo o peso do mistério e da intuição. No entanto, à medida que continuava sua jornada, algo em seu coração começava a se transformar. A paisagem a sua volta tornou-se mais fértil, exuberante. As árvores floresciam com frutas e flores em abundância, e os campos eram de um verde vibrante, quase reluzente. A natureza ao redor parecia respirar, pulsando com vida.

O Louco, sentindo a energia crescente desse novo ambiente, avistou à distância uma figura sentada sob uma grande árvore. Aproximou-se, curioso, atraído por uma sensação acolhedora que emanava daquele lugar. Ao se aproximar, viu que era uma mulher majestosa, sentada em um trono esculpido em madeira, adornado com símbolos de abundância e fertilidade. A Imperatriz estava cercada por flores, árvores e animais que pareciam repousar em sua presença como se fossem parte dela.

Ela usava uma coroa de estrelas sobre seus longos cabelos dourados, e um vestido que fluía como um rio, estampado com motivos florais. Em suas mãos, segurava um cetro, e sua expressão era suave, cheia de amor e sabedoria. O Louco se sentiu imediatamente confortável ali, como se estivesse voltando para casa após uma longa jornada.

— Seja bem-vindo, viajante — disse a Imperatriz, sua voz soando como o canto da terra. — Está em um lugar de nutrição e crescimento. Aqui, tudo floresce, tudo encontra seu propósito. O que procura em sua jornada?

O Louco hesitou por um momento, ainda refletindo sobre as lições do Mago e da Sacerdotisa. Ele entendia que estava em busca de algo maior, mas suas palavras falharam em capturar a essência dessa busca.

— Eu... procuro o que me falta. Aprendi sobre o poder de criar e sobre o mistério do que não pode ser visto, mas sinto que ainda estou incompleto.

A Imperatriz sorriu, um sorriso maternal que iluminou todo o ambiente.

— O que te falta não está distante, nem oculto. Está ao seu redor, na terra que te sustenta, no ar que respira, no próprio ciclo da vida. Eu sou a força criativa que dá forma ao que o Mago vislumbra e ao que a Sacerdotisa intui. Sou a fonte de toda a vida e a mãe de todas as coisas.

Ela se levantou do trono com uma graça natural e caminhou em direção a um campo de trigo, seus pés tocando suavemente o solo fértil.

— Aqui, tudo cresce com amor e cuidado. A criação não é apenas um ato de vontade, mas também de nutrição. Toda semente precisa de solo, água e tempo para florescer. Assim como você precisa de conexão com a terra e com seus sentimentos para que seus sonhos tomem forma.

O Louco a seguiu até o campo, observando enquanto ela acariciava as plantas ao seu redor. Sentiu a conexão entre a Imperatriz e a terra, como se ela fosse parte do próprio ciclo da vida. A fertilidade ao seu redor não era apenas física, mas também simbólica: o poder de criar, de nutrir, de dar vida a algo novo.

— Então, o que eu busco também está na terra? Está nas minhas emoções e naquilo que cultivo? — perguntou ele, ainda um pouco confuso, mas sentindo a sabedoria das palavras dela.

— Exatamente — respondeu a Imperatriz. — Tudo o que cria precisa de amor, cuidado e paciência. O que semeia em sua mente, em seu coração e no mundo ao seu redor, com o tempo, florescerá. A criação não é apenas o ato de moldar o mundo com sua vontade; é o ato de alimentar essa criação, de envolvê-la com sua essência e permitir que ela cresça de maneira natural, como uma mãe nutre seu filho.

Ela parou e pegou uma pequena semente, segurando-a na palma da mão.

— Cada sonho, cada ideia, cada desejo é uma semente. Pode plantá-la, mas precisa confiar no processo. A terra cuidará do resto, mas sua intenção e seu amor são essenciais para que ela se torne algo grandioso.

O Louco ficou em silêncio, sentindo o peso simbólico daquela pequena semente. Pela primeira vez, ele compreendeu que sua jornada não era apenas sobre o que ele desejava alcançar ou descobrir. Era também sobre como ele iria cuidar das suas escolhas e ações, como nutriria seus desejos e os deixaria crescer no ritmo natural da vida.

— Entendo — disse ele finalmente, com um sorriso suave. — Eu não preciso apressar minha jornada, nem forçar respostas. Preciso plantar as sementes certas e confiar que elas crescerão com o tempo.

A Imperatriz assentiu, sua expressão repleta de ternura.

— Sim, meu querido. A vida tem seu próprio ritmo, e você é parte desse ciclo. Confie na fertilidade da terra e no amor que carrega. O que precisa florescer em si encontrará seu caminho.

Ela então o conduziu de volta ao trono, onde lhe ofereceu uma taça de cristal cheia de um líquido dourado.

— Beba — disse ela — e renove-se com a força da terra, da água, e da vida que te cerca.

O Louco aceitou a taça e bebeu, sentindo o líquido aquecer seu corpo, como se estivesse absorvendo a própria energia vital da Imperatriz. Quando terminou, sentiu-se mais forte, mais conectado ao mundo ao seu redor. A vida pulsava dentro dele com mais clareza e propósito.

— Agora siga — disse a Imperatriz, voltando ao seu trono. — Leve consigo a lição do crescimento. Lembre-se que para cada ação há um tempo de nutrição. Cuide do que é importante, e o universo cuidará do resto.

O Louco, renovado em sua energia e em sua compreensão, sorriu. Ele se curvou levemente em sinal de respeito, agradecendo por tudo o que aprendera. Então, virou-se e partiu, deixando o campo fértil e a presença materna da Imperatriz para trás, mas levando consigo as sementes da sua própria jornada.