XX - O Julgamento

Com o calor do Sol ainda em sua pele e a alegria de sua luz ressoando em seu coração, o Louco continuava sua caminhada. Ele havia encontrado a clareza, a força interior, e a paz, mas sabia que sua jornada não estava completa. Em algum lugar mais à frente, sentia que algo grandioso o aguardava, algo que o desafiaria de maneira definitiva.

O cenário ao seu redor começou a mudar. O Sol, antes alto no céu, foi encoberto por uma névoa que gradualmente se adensou. Não era a escuridão fria da noite, mas uma espécie de véu translúcido que cobria a terra, como se o mundo estivesse se preparando para um momento solene e inescapável. O Louco caminhava com uma sensação crescente de expectativa, algo no ar o fazia sentir que o momento de se confrontar com suas escolhas e sua vida estava próximo.

À medida que avançava, ele avistou um rio largo e profundo. Do outro lado, erguia-se uma montanha de proporções imensas, e no topo dessa montanha, algo brilhava intensamente. Sentiu-se chamado para atravessar o rio, mas não havia ponte, nem barco. O Louco então notou algo extraordinário, as águas do rio começaram a se abrir, revelando um caminho estreito e seguro que o convidava a atravessar.

Sem hesitar, ele seguiu adiante. Ao pisar no solo do outro lado, um som profundo e vibrante ecoou pelo ar, como o toque de uma trombeta divina. O Louco olhou para cima e viu no céu uma figura imponente. Era um anjo, cujas asas brilhavam com uma luz intensa, carregando uma trombeta de ouro. Ao redor dele, almas surgiam do chão, como se fossem despertadas de um sono profundo. Algumas dessas almas olhavam para o céu em êxtase, outras em terror, mas todas estavam se preparando para um momento que transcenderia qualquer coisa que já haviam vivido. O julgamento havia chegado.

O anjo tocou a trombeta novamente, e dessa vez o som reverberou no coração do Louco. Ele compreendia que aquele não era um julgamento externo, mas um chamado para que ele enfrentasse o mais íntimo de sua própria alma, para que revisitasse toda a sua jornada e visse, de maneira clara e verdadeira, quem ele havia se tornado. Este era o momento em que ele deveria olhar para si mesmo com total honestidade, um momento de verdade, de despertar.

A voz do anjo soou como um trovão suave, cheio de poder e compaixão.

— Chegou a hora. Você cruzou muitas terras, enfrentou sombras e luz, viu a verdade e a ilusão. Agora, precisa olhar para dentro de si, para a totalidade de sua jornada, e escolher: Você é digno de continuar, ou é o momento de retornar, de recomeçar?

O Louco sentiu uma onda de emoções inundar seu ser. Ele sabia que não se tratava de um julgamento punitivo, mas de um convite para avaliar sua própria vida, suas ações, e suas escolhas. Sabia que precisava confrontar cada uma de suas decisões, aceitar seus erros e também reconhecer suas virtudes. Este era o momento de decidir se ele estava preparado para dar o próximo passo, um passo que o levaria para algo maior do que ele jamais poderia imaginar.

A seu redor, as almas continuavam a se erguer, e o Louco podia ver nos rostos delas expressões de arrependimento, aceitação, paz e até de medo. Todos, de alguma forma, passavam pelo mesmo processo, refletindo sobre suas vidas, sobre o que haviam feito e o que deixaram por fazer.

O Louco, então, sentiu um peso se formar dentro de si. Ele começou a rever mentalmente cada etapa de sua jornada: o primeiro passo em direção ao desconhecido como o Louco inicial, a magia e o controle do Mago, a sabedoria da Sacerdotisa, o amor da Imperatriz, a ordem do Imperador, a busca espiritual com o Hierofante, o dilema dos Enamorados, a vitória com o condutor do carro, a força encontrada dentro de si, e assim por diante. Cada momento, cada lição, reapareceu em sua mente, e ele sentiu todas as emoções, as vitórias, os fracassos, os erros e os acertos.

Ele compreendeu que sua jornada havia sido cheia de provações, mas também repleta de crescimento. E naquele momento, ao ser chamado para julgamento, sentiu que o que importava não eram os erros, mas o que ele havia aprendido com eles. Era o momento de liberar o peso do passado, de perdoar a si mesmo, e de se libertar para o que viria a seguir.

— Eu estou pronto — disse o Louco, sua voz firme, mas suave. Ele não estava mais preso ao passado, nem às dúvidas que um dia o haviam assombrado. Ele aceitava tudo o que havia vivido como parte de sua história, parte de quem ele era.

O anjo sorriu, e ao som de um último toque da trombeta, o Louco sentiu-se envolto por uma luz dourada que emanava da montanha a sua frente. A luz parecia purificá-lo, deixando-o mais leve, mais claro. Ele percebeu que o julgamento não era o fim, mas um renascimento, um chamado para que ele se transformasse e seguisse adiante, agora mais consciente de sua própria alma.

O Louco ergueu os olhos para o topo da montanha e soube que esse era o próximo passo de sua jornada. Ele sentia que, ao subir até lá, encontraria algo grandioso, algo que ele mal podia compreender, mas que sabia ser o destino final de sua viagem.

E então, com o coração tranquilo e purificado, o Louco começou a subir a montanha, guiado pela luz e pelo som distante da trombeta. Ele sabia que o Julgamento era uma prova importante, mas também um ponto de passagem, uma oportunidade de se reconectar com o propósito mais elevado de sua existência.

Agora, com cada passo rumo ao cume, ele estava pronto para o desfecho de sua jornada. O que o aguardava no topo da montanha não era apenas a conclusão de sua aventura, mas o Mundo, o ponto onde tudo faria sentido.